Alpes Japoneses

Foi como sentir-se ali, dentro daquele momento, não existia passado, nem futuro, só o presente. Esta foi minha sensação neste vilarejo incrível.

Saímos de Quioto bastante cedo, umas 6 da manhã, pegamos nosso trem bala para Toyama, e deveríamos descer em Takaoka, infelizmente nos confundimos com os nomes parecidos e descemos em Toyama, perdendo um tempão para voltar à Takaoka para pegar o ônibus em direção à Ainokura.

O caminho de trem foi lindo, muita neve desde a saída de Quioto, muitas montanhas e vilarejos. Foi uma viagem dentro da viagem, já que sem querer fui levado à uma reflexão sobre o momento de vida, e tantas outras coisas. Olhava pequenas casas e pensava, quem será que mora ali? O que fazem as pessoas? Que horas acordam? Como é a rotina? Meu sonho seria pertencer àquele lugar, nem que fosse só um pouco.

Voltando à viagem, descemos em Ainokuraguchi, tínhamos que caminhar até ao vilarejo por 5 minutos. Vimos muita neve, e tivemos medo de sentir muito frio. No entanto estava um clima muito bom, graças à falta de vento.

Alugamos quarto em uma casa num dos Gassho Zukkuri de lá, que são casas enormes com um telhado bem alto de palha em forma de mãos unidas em prece budista. A nossa casa era a Choyomon, reservamos pelo mesmo site do link, já que outros estavam mais caros.

Nossa casa Choyomon. A  estrutura de plástico em volta é para protege-la da neve.
Nossa casa Choyomon. A estrutura de plástico em volta é para protegê-la da neve.

  

No Brasil ainda, descobri pelo instagram, um vilarejo chamado Shirakawa-go. Vi belas fotos de casas cobertas de neve e quis muito ir. Os preços, para o meu bolso eram exorbitantes, e encontramos Ainokura, embora muitíssimo menor (apenas 20 casas), mais barata.

Vista das montangas
Vista das montanhas

Fomos recebidos por Mayumi, que administrava a casa, éramos os únicos hóspedes. A casa era grande, havia uma sala comum com uma fogueira central e uma grande chaleira, tudo bem rústico. Todas as instalações eram muito confortáveis e nossa anfitriã muito solícita.

A chaleira sobre a "fogueira"
A chaleira sobre a “fogueira”
Fomos recepcionados com chá e biscoitos
Fomos recepcionados com chá e biscoitos

Passeamos pala cidade que estava totalmente coberta por montanhas de neve com mais de dois metros. Fomos a um mirante, brincamos muito com a neve, nos divertimos muito. Estávamos sós, não haviam outros turistas, sentíamos o silencia, a natureza e a calma, e então me senti naquele momento presente, sensação difícil de vivenciar em nossas vidas corridas.

Vista da cidade
Vista da cidade
Neve acumulada mais alta que nós em alguns pontos.
Neve acumulada mais alta que nós em alguns pontos.
Muita neve
Muita neve

Das 20 casas, duas são museus, visitamos um deles, principalmente para aquecer nossos pés, que mesmo com as botas emprestadas por Mayumi não estavam dando conta do frio. O museu é mais Gassho, você pode conhecer como eles são construídos, que objetos se utilizam, como se construiu a história do local e como é cada cômodo da casa. Tudo em japonês! Na entrada, uma senhora cobra a entrada e só fala japonês. Logo depois que entramos ela veio nos guiar pela casa. Entendemos muito pouco, mas ela insistia em explicar tudo sendo muito simpática, nos mostrando objetos e como são utilizados. Tocou um instrumento local e cantou para nós, nos levou ao sótão por uma escada de madeira, depois desceu com muito mais agilidade que nós dois rapazes jovens. No fim nos trouxe um grande aquecedor, ligou um vídeo contando a história da região, deixando-nos à vontade.

Vista da cidade
Vista da cidade
Dentro do museu
Dentro do museu

Do museu fomos andar pela pequena cidade, subimos pelos morros de neve, observamos as casas e o silêncio da cidade, por fim, visitamos uma pequena loja/mercadinho/restaurante, compramos uns biscoitos, pequenos souvenirs e voltamos para casa.

Boneco de neve miniatura que fizemos
Boneco de neve miniatura que fizemos

Para um baladeiro, a cidade é muito chata, porque não há de forma algum, nenhuma agito e nem esportes radicais. A cidade possui 20 casas, sendo duas museus. Há regras, não se pode fumar em nenhum local, nem deixar as casas após 16hs, para manter a ordem e a paz do local. É um local mais para a contemplação, com ares românticos, um local pra descansar e conhecer um pouco do Japão do interior, sem tanta tecnologia e vida agitada, uma região mais tradicional, raízes culturais do local.

Nosso jantar foi magnífico, comemos um peixe da região assado, sashimi de truta, arroz e outras coisas bem gostosas, conversamos um pouco com Mayumi, que estava bem interessada sobre o Brasil, falamos de algumas diferenças alimentares, ela ficava sempre bastante surpresa. Perguntamos como iríamos dali para Nagano, ela meio confusa nos explicou que deveríamos ir a Shirakawa-go, de lá para Takayama e enfim Nagano, nos disse que teríamos que ir bem cedo. Perguntamos também como ir para Tóquio, ela ficou bastante confusa e assustada, sem saber como nos guiar, disse que era melhor voltarmos a Takaoka e de lá seguir para Tóquio. Resolvemos ir pra Nagano, reservei online um hotel legal. Depois tomamos um banho de ofurô e fomos dormir bem aquecidos.

O jantar
O jantar
Nossos peixinho na brasa
Nossos peixinho na brasa

No dia seguinte, tomamos café da manhã, com muito chá e arroz. Mayumi nos levou de carro ao ponto de ônibus para irmos em direção a Nagano. Ficamos muito agradecidos com a hospitalidade e generosidade de nossa anfitriã.

 

De bike em Kyoto

Mais um dia de bicicleta pelo Japão e desta vez em Quioto. Alugamos no próprio Hostel por ¥700 o dia. Era um dia frio, nos empacotamos e fomos.
Todo o Japão é bike friendly, mas em Quioto sentimos uma leve diferença. Algumas vezes tivemos que pedalar pela rua, por falta de espaço para pedalar mais seguramente, no entanto os carros respeitam ciclistas muito bem.

Nossa primeira parada foi o santuário Fushimi Inari. Não havia estacionamento de bike, encontramos algumas paradas e deixamos as nossas lá. Fizemos o passeio pelo templo, depois pela montanha com os diversos toris, muito famosos. Caminhamos até nos cansar. Pegamos as bicis e partimos para o Kiyomizu-dera, outro templo, o local todo enladeirado. Mais uma vez sem estacionamento, deixamos nossa magrelas próximo a umas outras e fomos pro templo.

Fushimi Inari, um santuário Xintoísta.
Fushimi Inari, um santuário Xintoísta.
O início do caminho dos Torís
O início do caminho dos Torís
Um trecho do caminho
Um trecho do caminho
Outra vista dos Torís
Outra vista dos Torís
A deusa Kanon
A deusa Kanon

Kiyomizu-dera é famoso pra nós turistas por ter sido construído sem um único prego. Fica no alto, e a vista é muito bonita. Estava ameaçando chover, caia uma leve garoa misturada com pequenos cristais de gelo. Tiramos varias fotos. E depois de muitos dias foi a primeira vez que ouvimos outras pessoas falando português, não interagimos, apenas olhamos.

Eu com a analógica em Kiyomizu dera
Eu com a analógica em Kiyomizu dera
Kiyomizudera na sua posição mais famosa
Kiyomizudera na sua posição mais famosa

Descemos de volta para as bikes, chegamos lá, ambas haviam sido enroladas em uma fita e havia uma inscrição em japonês que eu não fazia ideia do que era, olhamos em volta para ver se alguém poderia nos ajudar, mas não tinha ninguém. Tiramos a fita e fomos embora. Talvez tenha sido porque não deveríamos tê-las estacionado ali.
Nosso próximo destino era qualquer lugar, e então passeamos pela cidade sem rumo. Paramos num restaurante chinês, comemos como porcos, descansamos um pouco. Queríamos ir à beira do rio, mas não era permitido o trânsito de bicicleta, além do mais haviam guardinhas fiscalizando. Tentamos procurar uma estátua de um buda que havíamos visto do topo do prédio de nosso hostel, também não achamos.

Seguimos então para o palácio imperial. Era uma grande e imponente construção dentro de um parque. Infelizmente estava fechado e não vi mais que o telhado. Valeu o passeio pelo parque, o difícil foi pedalar pelas minúsculas pedras que é o chão do parque.

De lá fomos para o museu do Mangá. Estacionamos atrás do local. No espaço externo do museu já haviam pessoas vestidas de personagens e estavam tirando fotos. Eu nunca li um mangá em toda minha vida. Não sei nem o que tem de tão bom, mas resolvi ir para ver. O museu tem uma arquitetura legal e tem a aparência de uma grande biblioteca, muitas pessoas passam um bom tempo lendo ali (praticamente todo o acervo é em japonês), acredito que haja exemplares raros de algumas estórias. Vi também quadros de autores, suas mãos emolduradas em gesso e como seguram o lápis para desenhar. Pudemos ver  uma exposição sobre um mangá que achamos muito bizarro: “Eroica with love. Ficamos confusos, pois um dos personagens principais parecia mulher e ao mesmo tempo homem, parecendo uma relação gay entre ambos. Nossa perplexidade foi devido à cultura japonesa ser tão tradicional que seria difícil crer num tipo de história como aquela publicamente em um veículo de mídia para os jovens. Coisa que no Brasil seria queimado em praça pública. O museu era muito rico e para os amantes da arte, certamente vale a pena. Valeu para nós que nem acompanhamos nada, imagina para quem gosta?

Era noite quando saímos, e seguimos então para a estação a fim de reservar nossos assentos no trem para o dia seguinte e depois fomos para o Hostel. Deixei de ver algumas coisas que gostaria de ter visto em Kyoto. Não fui à Ginza ver gueixas, nem curti mais o Pontocho. Não fomos ao caminho do filósofo e nem curtimos mais profundamente a cidade. Nossos dias foram reduzidos em prol do passeio seguinte. Ainokura.

Floresta de Bambu

Do templo de ouro em Quioto, fomos conhecer a floresta de bambus, Arashyiama. Não sabíamos que ônibus pegar mais uma vez e fomos pra uma estação de trem onde seria possível usar nosso JRPASS. Os trens realmente são uma prioridade para locomoção no Japão, estão em todas as cidades e vão para todos os lados.
Após a estação, não foi difícil achar o local, uma horda de turistas seguia na mesma direção, alguns paravam pelos templos no caminho, nós seguimos direto para o parque.

O início da floresta
O início da floresta

Desde a entrada não havia nada muito emocionante, mas sim havia muitos bambus. Tivemos logo a impressão de que a floresta era mais bonita nas fotos que vimos anteriormente do que ali de corpo e alma presentes. Tiramos fotos e caminhamos tentando achar o melhor local (e menos cheio) para uma foto legal. Não estava dando! Para todos os lados estava cheio de gente, eu estava com dificuldade de fotometrar, estávamos sem paciência para retratos, e a paisagem parece que nunca ficaria como esperávamos.
Encontramos um cemitério no meio do caminho, havia uma placa proibindo a passagem, mas fiz “a brasileira” e subi uma pontezinha de acesso para admirar a paisagem. Era um trilho de trem abaixo e esperei um passar.
Voltei pro caminho do bambu e finalmente encontramos uma paisagem que nos agradou. Os bambus eram retos e mais organizados, o local mais escuro com um leve contraste do verde escuro das plantas e uma ladeirinha nos permitia alguns segundos de solidão para as fotos.

Uma vista melhor do bambuzal
Uma vista melhor do bambuzal, no alto o pintor de quem compramos o quadro
Una árvore interessante, com cara de gente
Una árvore interessante, com cara de gente

Foi um pouco difícil e nenhuma virou obra de arte. Mas encontramos um pintor que havia acabado de terminar uma pintura do próprio local, vendia o quadro a ¥3000, Wendel não hesitou e comprou.
Resolvemos tomar um caminho diferente pra voltar pro metrô. Fiquei meio desconfiado porque sei que essas coisas não dão muito certo quando você já andou muito, está cansado, com frio, fome e ainda não sabe como voltar pro local de origem, mas mesmo assim fomos explorar o bairro japonês.
Encontramos uma placa com o nome de um templo que gostaria visitar, Adashino Nenbutsuji. Ficava a 20 minutos de onde estávamos. Partiu! A maior atração deste templo, além da gratuidade, eram as diversas imagens de buda espalhadas pelo local. O bairro era muito lindo, claramente de alta classe social, casas mais modernas, carros mais caros, a aparência de toda a área era diferente. Começou a esfriar e ameaçou chover. Apertamos o passo, encontramos o templo, m

Cenário do bairro japonês nos entornos da floresta de bambu
Cenário do bairro japonês nos entornos da floresta de bambu

as já estava fechado. Eram quase 17:00. Não vi os budinhas, mas valeu a pena ver o bairro. Pegamos o ônibus e voltamos à cidade. Enfrentamos muito trânsito e entendemos como é bom andar de trem.

Trens para todos os lados
Trens para todos os lados

Quioto e o templo de ouro Kinkakuji

Depois de passear por templo, ver neve, minhas fotos reveladas, já estava bem adaptado ao Japão. Meu corpo aceitava muito bem a comida e minha mente a sociedade japonesa, aparentemente tão justa e igualitária.
Na metade das férias nos encontramos em Quioto, cidade que já foi capital do Japão. O que havia pra ser visto? Templos. E aqui pretendia também andar de bicicleta.

Nossa hospedagem também foi albergue, eu mesmo reservei, K’s backpackers house, tinha mais cara de hotel, haviam muitos estrangeiros, muita gente branca, alta e loira, tinha muito oriental também, mas não japonês.

No primeiro dia queríamos ir ao templo dourado, compramos um cartão de ônibus que valia pelo dia todo para todos os ônibus, foi ¥500. Buscamos no Google e encontramos um ônibus das redondezas do Hostel para lá. Grande erro! Deveríamos ter perguntado na recepção do hostel, mas já estávamos na rua e ficamos com preguiça de ter que tirar os sapatos entrar lá pra perguntar. Acabou que o ônibus deu uma volta quase que pela cidade toda pra chegar a este Templo, e perdemos um tempão.

Chegando lá enfim, pagamos os ¥400 pra entrar. Vi uma vending Machine de câmera descartável, não hesitei e comprei a minha. 27 poses.
Assim que entramos, lá estava o templo, um lago à frente, com algumas ilhinhas e árvores, muito bem cuidado e agradável, não fosse a infinidade de turistas, daria vontade de ficar ali só contemplando o belo Kinkakuji todo folheado a ouro. Não era grande, alguns imaginam gigantesco, mas era muito belo.

Templo de ouro - Kinkaku Ji - logo na entrada
Templo de ouro – Kinkaku Ji – logo na entrada
Pavilhão dourado
Pavilhão dourado

Umas senhoras japonesas nos perguntaram de onde éramos em japonês, muito interessadas e simpáticas. Nós também estávamos bem interessados por interagir com locais. Respondemos bem simpaticamente. Uma deles se impressionou. Depois houve uma pausa. Nós sem saber o que dizer, ou esperando que elas dissessem algo mais, ela nos olhando, até que a líder nos solta em português, “eu sou testemunha de Jeová“, e eu, “ah, ok“, nos despedimos e ela, “leia a Bíblia“. Sorrimos simpaticamente. Achei engraçado uma testemunha de Jeová visitando um templo budista, talvez japoneses lidem de forma diferente com religião. Uma não é contra a outra, nem um deus é mais verdadeiro que outro, enfim, não entrarei na discussão.

Passeio pelo parque atrás do templo.
Passeio pelo parque atrás do templo.
Altar
Altar
Fazendo sua oferenda
Fazendo sua oferenda

Por trás do templo ha um parque, lindo, rende belas fotos. Há lojinhas e comidas. Vimos muita gente com roupas tradicionais, moças com quimono, remetendo a um Japão antigo e conservador, exceto por um detalhe, a maioria carregava o pau da selfie. Acho que era na verdade um evento diferente para elas mesmas e precisavam registrar. Ou só a mania japonesa de tirar fotos mesmo. Mas como no Japão tudo é belo, o pau da selfie na mão delas não era nada cafuçu, mas sim elegante, contrastando o tradicional com o moderno.

"Pau da selfie sem cafuçagem"
“Pau da selfie sem cafuçagem”