Karaokê

Eu me sentindo estrela
Eu me sentindo estrela

Já com todos reunidos. Um grupo de 7 pessoas, brasileiros, paraibanos de sangue ou coração. Chegou o momento do karaokê. Peregrinamos em Akihabara para encontrar o local onde os outros participantes do grupo haviam visto no dia anterior. Era um prédio próximo à estação de trem JR. Pagamos 4000 Ienes por pessoa para passarmos 2 horas cantando e bebendo à vontade todos os drinks do cardápio. Cantamos de tudo, até mesmo a clássica do Kaoma, chorando se foi, Toxic da Britney, e nossa favorita Total Eclipse of The Heart. Só não tinha o famoso pagode japonês do “lixo maravilhoso“. Bebi drinks que não conhecia e nem lembro mais o nome, depois de tantos drinks nem sei como lembro de alguma coisa. Nos vestimos com fantasias que haviam lá e certamente nos divertimos muito.

Todxs cantando
Todxs cantando
Ao irmos de volta para o albergue estávamos muito felizes de bebida, foi a única vez que saímos da linha, falamos alto, rimos, estávamos bem brasileiros.
Dormi profundamente no albergue.

Retorno à Tóquio

Pela janela do trem as luzes. Cores e gente para todos os lados. O formigueiro japonês. Já virei japones também. Estou nascendo para essa nação. Me empatizei. Comparo-os aos incas, se os europeus tivessem deixado-os em paz, talvez teriam se tornado um país como este, com sua própria cultura, tradição e desenvolvimento. Um país muito rico, cheio de ouro. A sorte do Japão, talvez, foi o isolamento.
Enfim Tóquio, está acabando!
Desde alguns dias eu estava louco para revelar uns filmes. Mais entendido da cultura e dos espaços, na mesma noite que cheguei, após ver os amigos, levei-os a me acompanhar e achar a loja da lomography para enfim deixar os filmes e revelá-los. Botei no Google e partirmos para o endereço. Quem disse que eu encontrava? Parei numa loja, ninguém conhecia, parei em outra e ninguém sabia do endereço, ou não estava muito disposto a ajudar. Até que numa loja diferente, vendiam trens em miniatura para coleção, o balconista acessou a internet, buscou o endereço e disse que ficava no Arts Chiyoda (um centro de artes do bairro), apontou a direção e seguimos, mas não encontrava, além disso chovia. Sorte que todos estávamos animados, conversando bastante devido o reencontro e agora haviam mais duas novas participantes chegadas da Paraíba, estávamos emocionados elogiando o Japão e mostrando os lugares. 
Parei então numa lanchonete de cachorro quentes e perguntei do Arts Chiyoda, um dos trabalhadores ( sempre acho que é o dono ) pegou seu guarda-chuva saiu na rua e simplesmente nos levou até o local que ficava a mais umas duas quadras. Conversou comigo em inglês e no final nos convidou para irmos à seu restaurante. Eu tinha plena certeza que me pediria dinheiro, mas claro que não pediu. 
A loja que eu procurava estava fechada, não fomos ao hot dog, fomos para outro local, em Akihabara mesmo, procurar um karaokê.

O fim se aproxima – prelúdio!

Chegamos de volta à Tóquio. Estamos cansados, as malas muito mais pesadas, o corpo também. O fim se aproxima e a volta se acerca.

Andamos procurando nosso novo hostel, cheio de pensamentos e esperanças, nos perguntando o que ainda nos aguarda, onde ainda iremos,  o que veremos para ter um gostinho a mais de Japão neste fim de viagem.

As sensações e percepções já estão trocadas, algumas experiências novas acabaram de ser retiradas da longa bucket list. Vimos o que nunca tínhamos visto, comemos o que não conhecíamos, aprendemos novas comunicações, verbais e não verbais. Enfim, de volta à Tóquio e já somos outros. Já não sou mais eu, nem ele é mais ele.

Falta pouco e de volta ao Brasil. Procuramos deixar o amanhã só para amanhã mesmo, e viver o hoje, pois hoje estamos aqui, somente hoje e quem sabe quando mais? Pela dúvida estamos vivendo cada segundo. Contemplando o agora e principalmente o aqui. Guardando este souvenir em nós mesmos, pois este não tem corpo nem físico, e mesmo que na memória ele poderá se apagar, então vivemos só aqui.

No trem saindo de Yudanaka

Pegamos o trem local bem tristes! Estávamos partindo de Nagano…

Comprei um biscoito e chocolate quente para me alimentar.
A neve ficou mais forte e fiquei admirando pela janela do trem a bela paisagem.  A cidade sob a neve. Sempre pensando como devia ser a vida ali, como deveria ser sem a neve, um pouco triste pelo fim próximo, fazendo planos para os próximos meses de volta à casa.
Aí então em determinada estacão, o trem lota de crianças em torno de seus 7 a 9 anos, estudantes com suas mochilas padronizadas e com uma etiqueta de identificação em cada . Nada de mochila da Barbie, Monster High, Lilica, etc. Uma mochila quadrada da qual uma mãe brasileira comum diria, que coisa brega, horrível!

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Mochila Japonesa

Algumas nos admiravam, apontavam em nossa direção e falavam entre sim. Mas logo passou. Outras pegaram livros e liam umas pras outras. Havia algumas brigas, e também brincadeiras. Cada uma sabia onde descer, desciam só e logo abriam suas sombrinhas para se proteger da neve que caía forte. Havia inclusive uma criança Down, e que foi ajudada pelas outras até a estação final, onde todos descemos.
Partimos para a estação JR, com nossas malas de 1 tonelada cada. Compramos maçãs do tamanho de um globo terrestre e obentôs para nos alimentar.
Em pouco mais de uma hora chegaríamos em Tóquio. Era nosso último trem bala na viagem. Fui na janela observando a paisagem mudar das montanhas à planície da baía de Tóquio. A noite estava caindo, a luz branca aos poucos ganhava tons de azul, prenunciado o escuro.

Chegamos à noite, e seguimos para nosso último Hostel onde encontraríamos os amigos. Chovia em Tóquio, o vento frio deixava a sensação térmica mais gelada que a neve em Nagano. A cidade brilhava em cores de neon.

Macacos e Gentileza

Acordamos e resolvemos tomar mais um delicioso banho de onsen. Estava de dia e admiraríamos melhor o local. Aproveitamos cerca de uma hora no banho e fomos levado pelo filho dos donos da hospedagem até o parque. Ele nos indicou onde deveríamos pegar a condução de volta ao hotel, nos deixou na entrada do parque onde devíamos prosseguir a pé por cerca de 1.6km. O dia estava frio com neve pra todo lado.

Entrada do Parque Jigokudani
Entrada do Parque Jigokudani

Iniciamos a caminhada por uma escadinha e prosseguimos pela trilha de gelo. O hotel nos havia emprestado botas, o que foi essencial pois se não teríamos os pés molhados e congelados. Era um local lindíssimo, altas árvores e muito gelo, não havia muito movimento, então sentíamos o silêncio e a harmonia com a natureza.  Lembrei muito de um quando criança e jogava Looney Tooneys no mega drive, e também de Red Dead Redemption quando John Marston anda por Tall Trees. Uma paisagem bem parecida.
Tirei muitas fotos com a câmera analógica. Seria uma grande perda não ter registrado o local.

Eu posando no gelo!
Eu posando no gelo!
Muita neve
Muita neve
Árvores e neve
Árvores e neve

Na trilha já vimos traços de animais. Pegadas e fezes, ficamos receosos de ser atacados.
Chegando ao fim da trilha havia uma outra paisagem, um pequeno caminhão atolado no gelo, que me rendeu mais fotos, e um hotel. Havia também um grande buraco que expelia um forte vapor, e um cheiro leve de ovo podre, no caso enxofre, a terra respirando.

A primeira vista no fim do caminho
A primeira vista no fim do caminho
A terra respirando
A terra respirando

Entramos para ver os macacos no onsen, já observamos muitos logo na entrada. Corriam, brincavam, brigavam e catavam piolhos uns nos outros. Subimos uma grande escada atravessamos o rio e chegamos ao onsen dos macacos. Todos bem relaxados e calmos. Acariciando uns aos outros, acalentando o corpo naquele local gelado. Ficamos contemplando, observando a vida é a harmonia que os animais tem com a natureza. Ali, sem medo nenhum dos humanos, vivendo pacificamente sem ninguém lhes dando comida ou tentando pegar-lhes. Interessante como os turistas os respeitam neste aspecto, exceto pelo número excessivo de câmeras com longas lentes enfiada quase na cara dos pobres macacos. Temos que ficar desviando dos tripés ou mesmo câmeras pelo chão, Wendel quase chutou uma sem querer.

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Catando piolho!
Catando piolho!
Curtindo uma piscininha!
Curtindo uma piscininha!
Bem de boa relaxando
Bem de boa relaxando
Família Símea
Família Símea

Depois de um longo tempo fomos embora,  entramos no centro de apoio aos turistas logo na entrada do parque para aquecer nossos pés que, apesar das botas, estavam muito gelados. Comprei uns postais e tomei chocolate quente. Na saída começou a nevar grosso. Foi um momento também especial, pois estávamos no meio da floresta, próximos à um rio e a neve caindo, uma sensação para se guardar especialmente na memória.

Na hora da neve
Na hora da neve
Eu brincando com a neve feito besta
Eu brincando com a neve feito besta

Saindo finalmente do parque, fomos ao local indicado para pegar a condução de volta. Não chegaria outro em 50 minutos, estava nevando muito e bastante frio. Perguntamos a uns turistas onde havia ônibus, ninguém sabia explicar. Todos tinham cara de ricos e de que estavam hospedados por ali mesmo. Resolvemos pegar um táxi, que segundo a lenda, é muito caro no Japão. Voltamos para onde havia um ponto com vários taxistas até que passa um carro, para e dá ré. Era nosso anfitrião, o senhorzinho, foi nos pegar. Entramos no carro quentinho, agradecemos milhares de vezes e ele foi conversando o caminho todo, não entendemos nada!
No hotel recebemos umas bolsinha para colocar no bolso e esquentar nossas mãos. Voltaríamos para Tóquio, muito tristes pois nossa viagem chegava mais próximo ao fim.

Uma noite de noodles e onsen

Chegamos a um belo hotel/ryokan em Nagano: Yudanaka Seifuso. Escolhi este porque tinha onsen com água naturalmente aquecida.
Era realmente confortável, fomos recebidos com chá e biscoitos, estávamos famintos. Descansamos um pouco, procuramos logo um local para comer. Nos indicaram um restaurante próximo à esquina.

Esperando o jantar
Esperando o jantar

Era um restaurante tradicional, poderíamos sentar no chão, mas fomos orientados a sentar no balcão mesmo. Já estava próximo a fechar, havia apenas o dono servindo, e dois caras bebendo. Nos olhavam curiosos!
Pedimos cerveja, churrasco de frango, Lámen e guiozas. Foi tudo muito barato e gostoso. O dono, muito simpático, pensou que éramos australianos, mais uma vez vimos um japonês se impressionar porque éramos burajiru jin (brasileros). Vimos um Daruma enorme com um olho só pintado, vimos também uma colmeia gigante exposta em uma redoma de vidro. Conversamos mais um pouco e partimos.

Dois Gaijins. Observa-se no alto à direita a colméia.
Dois Gaijins. Observa-se no alto à direita a colméia.

No hotel descansamos um pouco, vestimos nossas yukatas e fomos pro onsen. Esperava encontrar mais gente, mas por sorte estava vazio, era só nosso.
Tiramos nossas roupas, guardamos tudo em um cesto e entramos no local. Haviam os chuveiros e logo adiante o onsen, quadrado e com o fundo de pedra preta, tudo esfumaçando. Com as fotos abaixo é possível viusalizar, estão fora de foco porque tirei na pressa com medo de chegar alguém.

Tomamos nosso banho e depois entramos na água. Era muito quente e fui entrando aos poucos. Sentei e relaxei. Não aguentamos muito. Logo ficamos moles e saímos, eu queria aproveitar muito mais, tomei então uma ducha mais fria pra refrescar, e fiquei nesse ritmo entra e sai. Foi ótimo e muito relaxante, ficamos um bom tempo mergulhados admirando o céu estrelado e ora brincando com a neve que resistia atrás de algumas pedras em volta a um jardim.

Chuveiros para o banho!
Chuveiros para o banho!
O onsen À 45°C
O onsen À 45°C

Na saída ficamos dando uma volta pra ver o hotel e uma senhora, que depois percebemos ser a dona, nos levou pra ver todos os locais do estabelecimento. Nos apresentou os outros onsens, havia um privado, outro público, mas fechado, e um feminino, este ela não nos levou. Foi muito simpática – conversou muito em japonês, entendemos só 3% da conversa. Achamos interessante porque ela estava muito à vontade conosco, inclusive se trancou em um dos onsens. No Brasil jamais se faria isso pelo perigo e violência.

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Parte externa do Yudanaka

No final chegou seu marido e ficou muito curioso sobre o Brasil, perguntou se tínhamos leões, elefantes e tigres nas florestas. E nós tentamos explicar um pouco de nossa fauna, que não era desse jeito. A conversa foi tão boa que o senhorzinho nos prometeu levar-nos às 9 horas para o parque dos macacos. Fomos dormir para esperar o grande dia que viria.

Gostaria muito de voltar e relaxar o tanto que relaxei ali!

Saga no trem em Nagano

Chegamos finalmente à Nagano, eram mais de 14:00. Seguiríamos para nosso hotel, que não era realmente em Nagano, mas sim em outra região, era necessário pegar trem, um urbano, que nos levasse até lá. Já estávamos em cima da hora pra pegá-los, estávamos mortos, não conseguíamos carregas as pesadas malas, que no plano inicial ficariam em algum locker nos esperando, ou já seriam enviadas à Tóquio, nosso destino final.  Mas somos de economizar, e não se importar em carregar pesadas malas escadas acima e abaixo, morros acima e abaixo, e assim fomos.

O trem era comum, como os de Recife, São Paulo,  qualquer lugar (exceto CBTU da grande João Pessoa). Sentamos com nossas malas atrapalhando o trânsito de outros passageiros. A cidade era muito mais fria, víamos montanhas muito altas e vulcões ao redor. Provavelmente por isso o local tenha tantas fontes termais.

OS assentos eram confortáveis, o trem frio, mas abaixo do banco havia calefação e deixava nossas pernas quentinhas. Este trem, diferente de Tóquio, e outras cidades era mais barulhento, as pessoas conversavam mais, haviam mais jovens, estudantes. À nossa frente notei dois rapazes, pareciam saídos de um anime, talvez dois Otaku. Um pouco antes de ir pro Japão e havia assistido Akira e ambos os garotos me lembraram a animação. Um baixinho e gordinho, tinha a voz fina como de dublagem, o outro mais alto e melhor desenvolvido tinha a voz mais firme e também de dublagem, estavam com Mangás, deviam ter acabado de comprar e conversavam bastante. Foi algo rápido, mas marcante, cada um representava um estereótipo.

Outros estudantes conversavam em pé no meio do trem e conforme passavam as estações se despediam com seus bye-byes, nada de Sayōnará.Vimos também um grupo de garotas estrangeiras que iam para a mesma estação final, todas loiras, com mochilas enormes, algumas com cabelos de dread, outras com os cabelos encaracolados, sem aquela vaidade que conhecemos das garotas no Brasil

De repente o trem para, se anuncia algo em japonês, nós não entendemos nada e quase todos descem, inclusive as gringas. Hesitamos entre ficar no trem ou seguir o grupo, decidimos pelo primeiro, alguns minutos depois um oficial da companhia de trens nos pergunta se vamos para a última estação, e nos informa que devemos trocar de trem.

Chegamos à Yudanaka Eki já depois do sol se por, saindo da estação foi onde pagamos, pouco mais de 2000 Ienes, foi uma viagem longa, como da Luz à Guaianazes talvez. Fomos recepcionados por um senhor que orientava pessoas à vans, perguntou onde ficaríamos, eu disse Yudanaka Seifuso, não precisava de Van, era muito próximo, caminhamos a nosso Hotel para finalmente descansar e comer.

Viajando de ônibus

Mayumi se impressionou quando perguntamos como ir pra Tóquio. Era como se estivéssemos indo pra outro mundo. Para Nagano nos instruiu em ir até Shirakawa-go, depois, Takayama e Finalmente chegaríamos lá. Tudo errado! A bichinha realmente não sabia como deveríamos fazer. Pegamos o ônibus, com o mesmo motorista do dia anterior, e seguimos. Eu estava bem animado porque passaria por Shirakawa. A estrada era linda, cheia de neve. Só senti sono, mas queria muito ver o caminho todo.

Descemos em Shirakawa, tomei logo um café Boss, e depois ficamos pensando o que fazer com as malas, ainda demoraria 40 minutos para o próximo ônibus. Achamos um centro turístico, havia local para guardar as malas. Atravessamos uma ponte bamba e chegamos na cidadezinha. Bem maior que Ainokura e mais estruturada para o turismo. Avistamos uns turistas que eram provavelmente do sudeste asiático. Achei interessante, porque o estilo deles me lembravam muito o povo latino americano, embora sejam de culturas de origem bem diferente, apesar da colonização na Indonésia. Somos todos iguais, o que nos diferencia é o que há no bolso.

A ponte balançante de Shirakawa go
A ponte balançante de Shirakawa go
Eu na ponte
Eu na ponte
Casa em Shirakawa-go
Casa em Shirakawa-go
Rua de Shirakawa-go
Rua de Shirakawa-go

Não vimos muito e fomos embora. Mas o caminho era mais longo.  Já havíamos passado uma hora no ônibus de Ainokura até aqui, até Takayama 1h30, e depois ainda havia Matsumoto e finalmente Nagano.

Sentamos no ônibus e só deu sono. Coloquei um filme na máquina, tirei uma foto e esperei um novo momento. A paisagem há todo momento era de tirar o fôlego, coisa de filme. Me senti nos alpes europeus, mas melhor ainda, no Japão. Montanhas altas, pinheiros, rios, neve, grandes represas, tuneis e uma estrada muitíssimo sinuosa e perigosa. não tirei nenhuma foto, não quis perder o tempo de olhar e contemplar. Não dormi, apenas assisti, como quem assiste uma TV.

A primeira foto do filme
A primeira foto do filme

Em Takayama não nos deu tempo de nada, não saímos da rodoviária, tomamos uma Pepsi e subimos no ônibus. Desta vez um pouco mal humorados, pois as passagens não estavam sendo baratas. Mais belas vistas e pistas de ski. enfim Matsumoto, uma cidade grande  e não tão turística, já havia bem menos gelo. Depois de mais um tempo, finalmente Nagano, e então descobrimos que precisávamos pegar ainda um trem local para chegar a nosso Ryokan em Yamanouchi, de onde partiríamos para o parque Jigokudani onde se observa os macacos se banhando no onsen, que já é outra história.

No final, percebemos que de Ainokura deveríamos ter regressado à Toyama, e de trem chegar a Nagano. Nos sairia mais rápido e barato já que tinhamos o JRPass, no entanto perderíamos a bela vista da estrada, as pequenas cidades do interior, Shirakawa-go e a experiência da viagem por estrada.

Alpes Japoneses

Foi como sentir-se ali, dentro daquele momento, não existia passado, nem futuro, só o presente. Esta foi minha sensação neste vilarejo incrível.

Saímos de Quioto bastante cedo, umas 6 da manhã, pegamos nosso trem bala para Toyama, e deveríamos descer em Takaoka, infelizmente nos confundimos com os nomes parecidos e descemos em Toyama, perdendo um tempão para voltar à Takaoka para pegar o ônibus em direção à Ainokura.

O caminho de trem foi lindo, muita neve desde a saída de Quioto, muitas montanhas e vilarejos. Foi uma viagem dentro da viagem, já que sem querer fui levado à uma reflexão sobre o momento de vida, e tantas outras coisas. Olhava pequenas casas e pensava, quem será que mora ali? O que fazem as pessoas? Que horas acordam? Como é a rotina? Meu sonho seria pertencer àquele lugar, nem que fosse só um pouco.

Voltando à viagem, descemos em Ainokuraguchi, tínhamos que caminhar até ao vilarejo por 5 minutos. Vimos muita neve, e tivemos medo de sentir muito frio. No entanto estava um clima muito bom, graças à falta de vento.

Alugamos quarto em uma casa num dos Gassho Zukkuri de lá, que são casas enormes com um telhado bem alto de palha em forma de mãos unidas em prece budista. A nossa casa era a Choyomon, reservamos pelo mesmo site do link, já que outros estavam mais caros.

Nossa casa Choyomon. A  estrutura de plástico em volta é para protege-la da neve.
Nossa casa Choyomon. A estrutura de plástico em volta é para protegê-la da neve.

  

No Brasil ainda, descobri pelo instagram, um vilarejo chamado Shirakawa-go. Vi belas fotos de casas cobertas de neve e quis muito ir. Os preços, para o meu bolso eram exorbitantes, e encontramos Ainokura, embora muitíssimo menor (apenas 20 casas), mais barata.

Vista das montangas
Vista das montanhas

Fomos recebidos por Mayumi, que administrava a casa, éramos os únicos hóspedes. A casa era grande, havia uma sala comum com uma fogueira central e uma grande chaleira, tudo bem rústico. Todas as instalações eram muito confortáveis e nossa anfitriã muito solícita.

A chaleira sobre a "fogueira"
A chaleira sobre a “fogueira”
Fomos recepcionados com chá e biscoitos
Fomos recepcionados com chá e biscoitos

Passeamos pala cidade que estava totalmente coberta por montanhas de neve com mais de dois metros. Fomos a um mirante, brincamos muito com a neve, nos divertimos muito. Estávamos sós, não haviam outros turistas, sentíamos o silencia, a natureza e a calma, e então me senti naquele momento presente, sensação difícil de vivenciar em nossas vidas corridas.

Vista da cidade
Vista da cidade
Neve acumulada mais alta que nós em alguns pontos.
Neve acumulada mais alta que nós em alguns pontos.
Muita neve
Muita neve

Das 20 casas, duas são museus, visitamos um deles, principalmente para aquecer nossos pés, que mesmo com as botas emprestadas por Mayumi não estavam dando conta do frio. O museu é mais Gassho, você pode conhecer como eles são construídos, que objetos se utilizam, como se construiu a história do local e como é cada cômodo da casa. Tudo em japonês! Na entrada, uma senhora cobra a entrada e só fala japonês. Logo depois que entramos ela veio nos guiar pela casa. Entendemos muito pouco, mas ela insistia em explicar tudo sendo muito simpática, nos mostrando objetos e como são utilizados. Tocou um instrumento local e cantou para nós, nos levou ao sótão por uma escada de madeira, depois desceu com muito mais agilidade que nós dois rapazes jovens. No fim nos trouxe um grande aquecedor, ligou um vídeo contando a história da região, deixando-nos à vontade.

Vista da cidade
Vista da cidade
Dentro do museu
Dentro do museu

Do museu fomos andar pela pequena cidade, subimos pelos morros de neve, observamos as casas e o silêncio da cidade, por fim, visitamos uma pequena loja/mercadinho/restaurante, compramos uns biscoitos, pequenos souvenirs e voltamos para casa.

Boneco de neve miniatura que fizemos
Boneco de neve miniatura que fizemos

Para um baladeiro, a cidade é muito chata, porque não há de forma algum, nenhuma agito e nem esportes radicais. A cidade possui 20 casas, sendo duas museus. Há regras, não se pode fumar em nenhum local, nem deixar as casas após 16hs, para manter a ordem e a paz do local. É um local mais para a contemplação, com ares românticos, um local pra descansar e conhecer um pouco do Japão do interior, sem tanta tecnologia e vida agitada, uma região mais tradicional, raízes culturais do local.

Nosso jantar foi magnífico, comemos um peixe da região assado, sashimi de truta, arroz e outras coisas bem gostosas, conversamos um pouco com Mayumi, que estava bem interessada sobre o Brasil, falamos de algumas diferenças alimentares, ela ficava sempre bastante surpresa. Perguntamos como iríamos dali para Nagano, ela meio confusa nos explicou que deveríamos ir a Shirakawa-go, de lá para Takayama e enfim Nagano, nos disse que teríamos que ir bem cedo. Perguntamos também como ir para Tóquio, ela ficou bastante confusa e assustada, sem saber como nos guiar, disse que era melhor voltarmos a Takaoka e de lá seguir para Tóquio. Resolvemos ir pra Nagano, reservei online um hotel legal. Depois tomamos um banho de ofurô e fomos dormir bem aquecidos.

O jantar
O jantar
Nossos peixinho na brasa
Nossos peixinho na brasa

No dia seguinte, tomamos café da manhã, com muito chá e arroz. Mayumi nos levou de carro ao ponto de ônibus para irmos em direção a Nagano. Ficamos muito agradecidos com a hospitalidade e generosidade de nossa anfitriã.

 

Cidade sagrada de Nara

Saindo do Templo no Monte Koya estava uma neve linda e gostosa, esperamos o ônibus que nos levou ao caminho de volta à Osaka. Descemos pelo cable car. Na estação tomamos um café, um chocolate, tiramos fotos e depois pegamos o trem até a estação Hashimoto, onde de uma hora para outra decidimos ir para Nara. Pegamos um trem da JR que levaria 2 horas, não pensamos direito e fomos mesmo assim. Achei que não chegaríamos nunca! Era um trem local, parava em todo lugar. Encheu de estudantes adolescentes, bonitos com aqueles uniformes tradicionais, bem vestidos e bem alinhados.
Chegando à Nara, fomos até o balcão de informações para saber onde ir e o que ver, mal nos aproximamos e uma senhora, a atendente, já se levantou com um mapa nos dizendo onde ir, quanto tempo de caminhada levaríamos, onde poderíamos comer, o que veríamos em cada local e custos de entradas no templo. Me lembrei muito uma vez no aeroporto do Galeão quando perguntei a uma moça no balcão de informações onde estariam os guarda-volumes, e ela, com muita simpatia, por eu ter interrompido sua conversa com a amiga, me indicou o caminho.

Almoçamos comida italiana, numa rede famosa no Japão, Saizeriya. Foi a primeira vez que comemos comida ocidental com garfo e faca no Japão. Notamos a falta de sal, mas estava saboroso, além disso o refrigerante era à vontade, experimentei de todos os sabores e ganhei mais calorias.

Ao chegarmos no parque dos templos, encontramos de cara os cervos soltos pela rua. Assim como em Miyajima, eles andam livres, porém aqui estão em muito mais número. Deve-se ter cuidado, eles buscam comida a todo momento, vimos gente correndo de seus ataques e jovens gritando com medo. Há placas pela cidade pedindo cuidado, pois eles podem atacar, dar coice, chute, mordida e cabeçada. É bom só tirar algumas fotos e deixá-los no canto deles. Algumas barraquinha vendem comida para dar-lhes, muita gente faz isso, eu resolvi nem arriscar.

Pagoda logo no início do parque dos templos.
Pagoda logo no início do parque dos templos.
Um local interagindo com os cervos. Ele move a cabeça de baixo pra cima, os cervos fazem o mesmo, e em seguida lhes dá biscoito. Parece uma boa técnica.
Um local interagindo com os cervos. Ele move a cabeça de baixo pra cima, os cervos fazem o mesmo, e em seguida lhes dá biscoito. Parece uma boa técnica.
Os cervos comem de tudo, mastigam até correntes.
Os cervos comem de tudo, mastigam até correntes.

Os templos de Nara são belos. Mas o que mais me chamou a atenção foi o Todaiji, pois seu tamanho é gigantesco e dentro dele há uma estátua enorme de um Buda. Lá também há um tronco grosso com um buraco onde você pode fazer um pedido e passar por ele. Muita gente pagou mico e passou, mais uma vez não me arrisquei, me imaginei entalado ali pelo resto da vida como atração turística da cidade. Comprei algumas lembrancinhas e partimos.

O grande templo Todaiji
O grande templo Todaiji
Buda gigante
Buda gigante

Ainda tínhamos que ir a Osaka, eu tinha deixado uns filmes pra revelar na Yodobashi e tinha que buscá-los. Foto analógica é o meu hobby, e no Brasil isso está morto, tenho que aproveitar Minhas viagens para revelar filmes. Como antigamente, é sempre uma surpresa, já que nem todas as fotos ficam boas.

Eu tenho uma Diana mini da lomography, ano passado me apaixonei pelas fotos que ela produzia, pela magia de tirar uma foto e as cores se mostrarem diferente das fotos digitais, fora a surpresa de uma imagem sair diferente do que você imaginou. De um tempo pra cá a câmera deu problema e as fotos começaram a sair sobrepostas, todas, sem exceção e aí perdi o gosto pela lomografia. Agora utilizo uma Pentax K1000, e as fotos têm ficado muito legais.

Ao buscar os filmes revelados, a atendente não sabia inglês e teve dificuldades para dizer que alguns filmes tinham tido problemas. Como já imaginava alguns problemas com aqueles filmes que entreguei, eu havia compreendido o que a moça queria dizer, mas também não consegui dizer isso a ela, nem ela entendeu. Vimos que ela foi ao computador e voltou com uma frase anotada num papel, ela havia traduzido, mesmo assim não estava muito claro. Ela correu no meio da loja, que é muito grande, e nos trouxe uma moça que falava inglês perfeitamente. Nos explicou todo o problema, que em alguns filmes as fotos estavam sobrepostas, e não foi possível escanêa-los, e que um outro precisava de um processo químico que só ficaria pronto para mais de uma semana daquela data. Eram justamente os filmes que eu havia utilizado na câmera lomográfica.

A câmera Diana é muito frágil, assim como outras da lomography e não são baratas, para não cair num consumismo desnecessário, resolvi desistir dela, e usar métodos mais tradicionais. O Japão é um paraíso analógico, infelizmente não tive dinheiro para aproveitar disso, pois quis aproveitar pra passear, comer e luxar o que podia neste país. Fica pra próxima!