Monumento da paz em Nagasaki

Há uns dois anos atrás fui conhecer a fria e estranha Berlim, lá visitei, entre outros pontos turísticos, o memorial do holocausto, sinceramente não aguentei e saí sem ver tudo. Antes de partir para o Japão já havia traçado em meu roteiro que visitaria locais relacionados à bomba atômica, ou Hiroshima ou Nagasaki, resolvi aqui no Japão que visitaria as duas.

Em Nagasaki visitamos o Memorial da Paz

, próximo ao epicentro de onde a bomba atômica explodiu. Era uma área ampla, bastante aberta, com alguns monumentos espalhados e no final uma estátua, símbolo do local e da memória da tragédia provocada.
O espaço era bonito, de início encontramos uma bela fonte, onde tiramos algumas fotos.

A fonte na entrada do memorial
A fonte na entrada do memorial
Vista do memorial logo após a fonte
Vista do memorial logo após a fonte

Prosseguimos e o cenário começou a ficar mais triste, havia um monumento simbolizando pelo que entendi crianças, nele havia flores e muitas garrafas d’Água, e então entendi que era em homenagem à pessoas que morreram. Interessante notar que água estava em todo local do memorial, descobri mais tarde que isso é como uma oferenda aos mortos vítimas da bomba que sofriam de muita sede devido às queimaduras da radiação, algumas chegavam a pular nos rios para aliviar, mas muitos estavam ácidos. Havia então uma placa com o relato de um senhor japonês relembrando o acontecido, vimos algumas fotos dos efeitos da bomba e isso ia nos deixando um pouco tristes.

Haviam muitos monumentos que outras nações haviam dado de presente para a cidade, todos ex-socialistas e alguns que nem existem mais. No meio deles havia um doado pela cidade de Santos. Gostamos de ver nosso mapa lá, uma imagem tão familiar e segura a nossos olhos.

Presente da cidade de Santos para Nagasaki
Presente da cidade de Santos para Nagasaki

No final encontramos a grande estátua de um homem sentado, seu corpo e rosto nada lembrava o Japão ou os japoneses, mas ao lado estava uma explicação, e assim entendemos que o monumento era para lembrar da tragédia para que nunca mais acontecesse no mundo, um símbolo para todas as nações.

O monumento da paz - a mão para o alto simbolizando o perigo da bomba, a mão esquerda tranquilidade e paz, os olhos fechados uma oração pelos mortos, a perna cruzada meditação enquanto a esquerda ação para cuidar dos feridos.
O monumento da paz – a mão para o alto simbolizando o perigo da bomba, a mão esquerda tranquilidade e paz, os olhos fechados uma oração pelos mortos, a perna cruzada meditação enquanto a esquerda ação para cuidar dos feridos.

De lá, fomos para o epicentro da bomba, era como um parque pequeno, havia algumas árvores, um espaço aberto mais ao centro, umas ruínas e um córrego. Ao entrar neste parque lembrei logo de minha mãe dizendo antes de embarcar para o Japão que eu não demorasse muito nestes locais onde a bomba havia caído pois ela acreditava que me faria mal. Eu não sei se é impressão, mas senti uma energia mais pesada. Wendel, que é mais cético disse ter se arrepiado, fomos até uma pedra que simbolizava o epicentro, já que a bomba explodiu a 500m de altura, e próximo havia as ruínas do que parecia ser uma igreja, em uma das placas informativas lemos que à época se acreditava que nada nasceria naquele local por 70 anos. Foi um alívio ver as árvores e plantas ao redor, o Japão é sobretudo, arborizado.

Monumento março do epicentro da bomba de Nagasaki
Monumento março do epicentro da bomba de Nagasaki

À beira do córrego que eu mencionei antes, há uma parte conservada da época da tragédia, uma parte do solo cheia de entulhos, e fotos do local destruído, é claro, mais tristeza. Cruzando o rio estava o museu, resolvemos não ir por falta de tempo e principalmente pela tristeza que encontraríamos lá dentro, mas acredito que valha a pena visitar.

O local é belo, mas evoca uma forte tristeza. A tragédia com tantas mortes também nos traz a reflexão, e noção de que devemos ter um sentimento maior de humanidade e irmandade, que ser humano nenhum por nenhuma causa merece tal destruição. Na época da guerra os EUA foram atacados pelo Japão, mas isso não justificava a devastação de duas cidades e a morte de tantos cidadãos inocentes, só serviu realmente para mostrar seu poder sobre o mundo e não para trazer paz. Andando pelo Japão acho realmente estranho como os japoneses admiram os EUA, copiando tantas coisas deles, fico até pensando em teorias conspiratórias de que os americanos impõem isso de uma certa forma. Fico me perguntando o que um americano pensa quando visita um local desses.

Não tenho nenhuma característica de americano, talvez nas roupas ou alguma outra coisa que nossa cultura brasileira tanto copia desse país, mas vez ou outra algum japonês me pergunta, amerikajin desuka? Achando que sou americano, e eu burajirujin desu! Respondendo que sou brasileiro. Eles abrem um sorriso enorme, se espantam e falam das maravilhas de nosso país. É ótimo saber que nos valorizam, apesar de não nos valorizarmos.